Algumas mudanças que eu queria muito finalmente aconteceram e, com elas, vieram outras. Para quem ainda não sabe, estou trabalhando e morando em Sampa. Sem pai e mãe pra encher o saco mas também sem colo e cafuné quando as coisas complicam. Contando dinheiro pra poder ir ao supermercado e viver com o mínimo de conforto sem precisar abrir mão dos CDs e livros. Aprendendo a me virar sozinha numa cidade que é tão maior do que eu imaginava e que está me ensinando que chega uma hora em que é preciso amadurecer para que o mundo não nos consuma. E, se quiser acompanhar minhas aventuras nessa nova etapa da vida, aparece lá no meu cantinho novo: Se conselho fosse bom... Você será sempre bem vindo. E seus conselhos também!

Conselheira de Primeira Viagem
Sabrina em New York

É com propriedade e conhecimento de causa de quem convive diariamente com esse sentimento que acredito que certas pessoinhas deveriam ser proibidas de usar essa palavra. Saudade é sentimento de quem tem coração e não de quem pisa no dos outros e depois finge que nada aconteceu — pra essas pessoas, as palavras mais adequadas são arrependimento, peso na consciência ou culpa.

Mesmo desde antes de tudo começar eu já sabia que não ia ser fácil. E, apesar disso, eu achava que ia tirar de letra. Estava muito enganada. Acordar cedo, pegar ônibus, trabalhar até quase sete da noite, ficar por mais duas horas embaixo de chuva esperando ônibus que não chega, perder aula da pós, andar até o outro ponto, voltar pra casa em ônibus lotado, preparar a janta e queimar quase que toda a palma da mão, correr pra farmácia de pijama e ir dormir com a mão fantasiada de múmia e latejando não é pra qualquer um. E depois ainda tive que acordar mais cedo pra tomar banho com a mão ensacada e encarar um dia de trabalho com gase pra todo lado e a pergunta "o que aconteceu com a sua mão???". Mas faz parte e eu fui feliz. E, por incrível que pareça, nunca foi tão bom demorar mais de quatro horas dentro de ônibus cheio e metrô mais que lotado pra chegar aqui em casa, tomar sopa que a minha mãe fez e dormir na minha cama quentinha.

Ando sumida mesmo, mas é por uma ótima razão. Pelo menos por enquanto, parece que escolhi o caminho certo. O tempo anda curto, mas estou descobrindo — talvez infelizmente — que é, sim, possível ganhar dinheiro fazendo o que se gosta de fazer. E, além disso, tenho estado próxima de pessoas queridas e aproveitado momentos mais que agradáveis por aqui. Não sei quanto tempo esse "sonho" vai durar, mas pretendo aproveitá-lo ao máximo enquanto puder. Só que, para isso, vou ter que ficar um pouquinho afastada daqui, mas prometo que mando notícias sempre que puder. E, por favor, não se esqueçam de mim! Para quem interessar, continuo no mesmo e-mail e o meu celular não mudou.

Há exatamente um ano recebi um e-mail do Randall com um pedido de favor: dar um jeito no blog do cunhado dele. Abri o link e entrei, pela primeira vez, no Além das Portas. Seguindo os palpites (ou melhor, exigências) do dono do blog e ouvindo Nirvana, pouco tempo depois o layout ficou pronto. Terminei o meu trabalho, mas eu e ele continuamos conversando cada vez mais. O resto todo mundo já está cansado de saber: acabei ganhando o namorado mais fofo e lindo do mundo. Assim como no ano passado, ainda vamos demorar mais um pouquinho para nos encontrar, mas espero poder comemorar mais esta data o quanto antes. E mal sabia o Randall que o "favor" maior foi feito por ele, quando resolveu cruzar o nosso destino.

Você está dirigindo há horas em uma estrada escura, que não acaba nunca. Chega um momento em que você começa a se sentir meio perdido no meio do nada, sem saber para onde ir. Procura por uma placa que te oriente, espera ansioso por uma entrada que te leve ao seu destino e os quilômetros passam sem que nada apareça na sua frente. Você continua guiando, esperando chegar logo a algum lugar, já cansado. Mais estrada, mais quilômetros, mais cansaço, mais desespero. De repente, quando você menos espera, aparece uma bifurcação na estrada e você não sabe qual é o caminho certo a seguir. Direita ou esquerda? Direita ou esquerda? Direita ou esquerda? A divisão da estrada está cada vez mais próxima e você não sabe para qual lado vai. Esquerda ou direita? Esquerda ou direita? Esquerda ou direita? Sem muito tempo para pensar, você faz sua escolha meio instintivamente e vira o volante para um lado, com medo de ter deixado o caminho certo para trás. Mas ainda existe uma longa estrada a ser descoberta pela frente... o que não pode acontecer é parar no acostamento e ficar vendo os outros carros seguirem o seu destino.

Acho que é desnecessário dizer que os encontros são muito mais agradáveis, mesmo porque antes deles vem a saudade que dá um gostinho especial à espera. Despedidas geralmente são tristes, independente da distância a ser percorrida ou de quanto tempo vai durar a separação. Mês que vem faz um ano que conversei pela primeira vez com o Ti e, pouco tempo depois, vieram os encontros e, conseqüentemente, as despedidas. Todas elas foram difíceis, mas tem dias em que eu chego na rodoviária, compro minha passagem ou espero que ele entre no ônibus e, apesar da vontade imensa de não virar as costas e ir embora, faço isso porque sei que é o que deve ser feito. Outras vezes, mesmo sabendo que vou voltar sozinha e preciso dizer tchau "pela última vez" pela janela do ônibus, dói não poder ir correndo atrás dele de novo. Dessa última vez foi assim. Por mais que eu estivesse me preparando pra ir embora desde o dia anterior, não queria que aquele abraço na rodoviária acabasse nunca e, mesmo que eu tentasse evitar, meus olhos se encheram de lágrimas. Sem dúvidas, foi a despedida mais difícil de todas e, apesar da camiseta que trouxe o cheirinho dele comigo, ainda dói porque eu não sei quando o próximo reencontro vai acontecer. Mas esse vai ser, com certeza, o melhor de todos que já tivemos — pra compensar. Enquanto isso, a saudade, mais uma vez, me faz companhia junto com as músicas, os recadinhos, os presentinhos bobos e as lembranças. Pode ser numa canção, pode ser no coração/ Eu só quero ter você por perto...