29.1.04

Life has a funny way of sneaking up on you 

Alanis Morissette — Ironic

Antes de ontem eu acordei e encontrei uma embalagem do Submarino pra mim com uma etiqueta de presente. Era "A insustentável leveza do ser", que eu queria e que o RC me mandou. Qualquer livro é um ótimo presente pra mim. Talvez, daqui algum tempo, um CD seja mais adequado. Posso estar até exagerando, mas depois de ver aquela "fotografia" colorida do meu olho e ver aquele pedação super vermelho, eu estou morrendo de medo. O outro ainda está bastante azul, mas o médico disse que aquele pedacinho amarelo aos poucos vai ficando laranja até ficar vermelho também. E sabe o que isso significa? Eu queria não saber... Tudo o que eu queria agora era um abraço, preciso de colo. Mas eu estou tão estourada que nem isso eu consigo, porque é só alguém se aproximar de mim que eu já grito, tenho vontade de chutar longe. Não entendo como posso ser assim tão estúpida. Tenho vontade de chorar até secar todas as lágrimas. Tenho vontade de jogar esse copo na parede, de jogar tudo no chão, igual fazem nas novelas. Mas aí eu páro e me pergunto: de que adianta?


26.1.04

Longa espera 

Era tarde. Já deveria estar dormindo, mas as lembranças tiravam-lhe o sono. Fechava os olhos e fragmentos de imagens dele, guardadas em algum cantinho da sua memória, apareciam como flashes na sua frente. Tirou as presilhas do cabelo. Olhou-se no espelho e, por um momento, além do seu rosto, enxergou o reflexo dele abraçando-a. Fechou mais uma vez os olhos, colocou os braços ao redor do próprio corpo e sentiu o toque suave de suas mãos. Tão real era o momento que até o perfume que ele costumava usar ela sentiu.

Abriu os olhos e olhou-se no espelho novamente: como num passe de mágica, só a imagem dela — solitária — ocupava a bela moldura dourada à sua frente. Sem muita vontade, despiu-se e colocou a roupa de dormir. Seus olhos passaram rapidamente pelo espelho, na esperança de mais uma vez avistá-lo refletido ou talvez até preso do outro lado do vidro. Nada além da velha mobília e do seu rosto marcado pelo passado. Olhou à sua volta, sentiu o frio da solidão arrepiando-lhe a espinha delicadamente curvada. Deitou-se e cobriu-se com uma manta. Sentia-se sozinha. Sentia a falta dele ao seu lado; a cama parecia-lhe imensa. Uma peça importante da sua vida fora arrancada pelos anos, pelo tempo. Nada seria suficiente para substituí-lo — nem no quarto, nem no seu coração.

A saudade já não mais incomodava, feria-lhe fundo no peito, causando uma dor insuportável. Porém, remédio não havia para amenizar-lhe a dor. Uma lágrima escapou-lhe dos olhos e correu pelo seu rosto, acariciando-o como há muito não acontecia. Era a saudade que transbordava do seu coração. Já não mais suportava a falta que ele fazia em sua vida. O tempo voava e minutos eram anos que a separavam do último beijo, do momento de adeus. A dor continuava aumentando cada vez mais, tirando-lhe as forças e o fio de esperança que ainda a mantinham vivendo — ou sobrevivendo.

Virou-se para o lado e alcançou o porta-retratos: ele sorria. Novamente seus olhos se encheram de lágrimas. Uma dor ainda mais forte no peito fez com que levasse as mãos ao coração. A foto pousou lentamente sobre seu seio e milagrosamente já não sentia mais nada. Abriu os olhos e não acreditou no que via: ele, lindo e um pouco mais jovem, com algumas flores nos braços entrava pela porta e caminhava em sua direção. Aproximou-se dela e, num gesto suave, beijou-lhe a fronte como fizera todas as noites durante os anos em que estiveram juntos.

Ela entendeu que, finalmente, a sua hora também tinha chegado.


24.1.04

Tudo azul 

Toad The Wet Sproket — Pray Your Gods

Tem dias (ou noites ou madrugadas) em que eu gostaria de poder tirar todos os pensamentos da minha cabeça, passar um paninho úmido lá dentro e depois separar e organizar cada um por tipo, cor, tamanho, importância e jogar fora os que eu acho que não deveriam continuar aqui. Porque é impossível me manter saudável e normal com esse amontoado de coisas, mais bagunçado que a minha escrivaninha — que vive entulhada de papéis, cadernos, livros e nem sei mais o que. Como a idéia do paninho úmido não dá certo com a cabeça, resolvi parar de pensar um pouco e dar uma folga pro cérebro e comecei a brincar com as cores aqui. Amarelo, rosa, lilás, laranja e... azul! Não tem jeito, não consigo fugir do azul. Aí fui mexendo com as formas, os desenhos e surgiu o rascunho desse layout. O primeiro que eu faço sem uma foto ou ilustração. Bem simples, calminho e leve. Como eu gostaria de estar. Dizem que a cor azul é tranqüilizante e é disso mesmo que eu estou precisando. Espero que ajude. Assim como ajuda muito conversar com pessoas que me entendem. Amigos um pouco mais antigos e amigos que a gente acaba de conhecer mas já sabe que são pessoas especiais. E eu, que nunca tive muita sorte com as amizades, ultimamente parece que tenho ganhado ótimos presentes. É engraçado conversar com alguém que você conhece de vista há algum tempo e que em menos de uma semana já ganhou o nome de amigo. Mas pra que tentar entender essas coisas? Só tenho é que agradecer pelas pessoas tão queridas que apareceram no meu caminho e me mandam e-mails, mensagens no celular, que me repassam uns trabalhinhos pra me distrair e que fazem programações ótimas para um fim de semana diferente. Pena que nem sempre eu consigo retribuir tudo ou muitas vezes nem mesmo saiba como fazer isso. Espero que algum dia eu consiga fazer em dobro o que têm feito por mim.


23.1.04

As lágrimas que caem deixam mais azuis as letras 

Nando Reis — Palavras mais azuis

Eu queria ter todos os CDs do Nando Reis. Queria um All Star preto de cano alto que combinasse com o meu azul. Queria um livro novo. Queria conseguir guardar cada detalhe daquilo que eu vejo e não esquecer nunca mais. Queria conseguir pegar todas essas lágrimas e enfiar pra dentro de novo. Queria não ter medo. Queria não me sentir tão pequena nesse mundo enorme. Queria voltar a fita e simplesmente esquecer a tarde de hoje. Queria que tudo não passasse de um sonho ruim. Queria conseguir dormir e acordar amanhã como se nada tivesse acontecido.
Na verdade, se eu tivesse direito a um só pedido ele seria não perder nunca nunca nunca a capacidade de enxergar as cores e essas letrinhas que eu tanto amo. Só isso.


22.1.04

And you know... everything must go. Faster, please! 

Manic Street Preachers — Everything must go/ Faster

Eu acho muito estranho viver assim, acordando todo dia quase na hora do almoço pra ficar vendo o tempo passar, esperando o fim de semana chegar pra ver se arranjo alguma coisa interessante pra fazer. Tá, tudo bem que eu até estou fazendo uns trabalhinhos, mas a verdade é que eu sinto falta daquela loucura que foram os últimos meses de aula na faculdade, com o TCC pra terminar, aquele monte de coisas pra pensar... Ando numa calmaria tão sem graça que até tenho saudades dos altos e baixos daquela montanha russa que vivia me pregando peças. Acho que está faltando aventura na minha vida, emoção. Queria me apaixonar perdidamente e arriscar. Ou fazer uma loucura, sei lá. Dar uma chacoalhada, mexer um pouco. Porque já cansei de passar horas comendo, pensando no que eu vou comer ou então revirando o armário pra ver se tem alguma coisa diferente lá pra experimentar. Fico aqui ingerindo besteiras calóricas e engordando e pensando que preciso me mexer um pouco pra mandar embora esses quilos que vão se acumulando pelo meu corpo e o deixam cada vez mais molenga e pesado. Ontem eu fui me vestir pra colação da Má e resolvi colocar uma calça que não experimentava há algum tempo. Adivinha se não ficou super-hiper-apertada? Claro, o que mais eu podia esperar? Pior que nem vergonha na cara eu tenho. Estou escrevendo isso ao mesmo tempo em que penso se não tem um chocolate aqui pra eu comer. Desse jeito, daqui a pouco eu vou ter que andar enrolada num lençol. De casal. É isso que dá ficar em casa sem ter o que fazer. Nem livros mais eu tenho mais pra ler. Li todos. E já reli alguns que valiam a pena. Terminei essa semana o "Um grande garoto", mesmo economizando e lendo só duas páginas por dia. Aí, antes de ontem, sem escolha, tive que pegar "O Apanhador no Campo de Centeio" mesmo, o único que eu ainda não terminei de ler — porque a tradução é um porre e conseguiu acabar com a minha paciência com os "e alguma coisa que o valha" repetidos pelo menos umas 500 vezes por página. Preciso urgentemente ler "A insustentável leveza do ser" mas, como a grana está curta e não dá pra comprar um novo, vou me contentando com um livro que eu nem gostei — não adianta nem pensar em emprestar de alguém porque as pessoas que eu conheço aqui ou não gostam de ler ou só lêem porcarias de auto-ajuda. E isso não é só com os livros. Na verdade, vou me contentando com tudo. Até comigo mesma. Ando tão sem graça que até eu estou enjoando de mim. Começou a tocar Skank e essa música me lembra que eu decidi que vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser. O problema é que acho que no momento ela não está muito afim de me levar pra lugar nenhum, isso sim. Só espero que não me deixe estacionada aqui por muito tempo. Porque enquanto não acontece nada, eu vou inventando moda. Agora, por exemplo, inventei que quero fazer terapia e pós-graduação. A segunda, minha mãe falou que até pode pensar em pagar enquanto eu não arranjar um emprego. A primeira, ela disse, logo passa.


20.1.04

I think I'm on vacation... 

Coldplay — Clocks

Então aquela coisa sem graça de não ter nada pra fazer virou um clima de férias. Com direito a pipoca e guaraná no meio da tarde enquanto termino de escrever o release pro Randall, preparo a aula que vou dar daqui a pouco e começo a pensar sobre o que vou falar no Z!ne da semana que vem. Ainda sobra tempo pra fazer planos de tirar de vez as minhas tintas do fundo do armário e "fazer arte" bem colorida. Hoje aproveitei pra voltar no endocrinologista (era pra eu ter ido em agosto do ano passado, mas fiquei enrolando) e ver como está meu problema com as tireóides, e já vou me preparando pra furar o braço de novo e deixar uns 2 litros de sangue lá no laboratório ainda nessa semana. E como não preciso acordar cedo mesmo, vou aproveitar a festinha de formatura da Má amanhã e, como sou uma very important person, talvez eu use os convites que eu ganhei prum showzinho na quinta. É, parece que a minha vida nem está tão sem graça assim...


19.1.04

Sobre aquilo que eu gosto 

Saybia — The second you sleep

Escrever sobre coisas de que eu gosto sempre foi muito fácil pra mim e, além disso, muito compensador. É como se eu pudesse colocar as músicas, livros, filmes ou qualquer outra coisa num borrifador e, ao apertar aquele "gatilho" eu pudesse espalhar várias gotinhas dessa mistura no ar, para quem quiser ir buscá-las. Às vezes as gotas secam e ninguém aproveita. Mas é quando alguém sente o frio de água nova cair no seu rosto e vai tentar descobrir onde pode pegar mais dela que eu sinto que fiz a minha parte. É por isso que eu sempre quis trabalhar com cultura, pra poder espalhar coisas legais e pouco conhecidas ao invés de ficar aceitando tudo o que a mídia impõe pra gente. Agora eu tenho um "borrifador" que vai alcançar um pouco mais de gente. A responsabilidade aumentou, mas o prazer de ver o meu trabalho chegando a pessoas que eu nem conheço me motiva a melhorar sempre mais. Está no ar o DeBoa Z!ne, um portal jovem, com um conteúdo legal sobre cultura e atualidades e eu sou a responsável por ele. Estamos trabalhando nesse projeto desde dezembro e vê-lo pronto é tão bom! Estou meio boba, lendo e relendo os textos desde ontem e não me canso de ver o resultado. Ainda tem alguns errinhos, uns detalhes pra arrumar, outras mudanças pra fazer, mas eu gostei.

Bom, acabei tomando um rumo diferente do que eu ia falar — deve ser a empolgação com a novidade. Comecei com o objetivo de contar que pra mim é fácil escrever sobre o que eu gosto, mas quando eu preciso escrever sobre quem eu gosto a coisa complica. É que o Randall me pediu para escrever sobre o Clichê de Verão. Aí você fala: mas vc vai escrever sobre o livro, que é uma coisa. Só que eu digo que, escrevendo sobre o Clichê, eu vou estar escrevendo indiretamente sobre o autor, que é uma pessoa. E então estou desde quinta tentando pensar em como fazer um texto à altura do dele e não consigo descobrir. Resolvi relê-lo pela 4.ª vez. Peguei o arquivo ontem à noite, imprimi e fui me deitar. Enrolei um pouco, virei para um lado e depois pro outro e não conseguia dormir. Peguei as folhas e a vontade que eu tive foi de, mais uma vez, virar a noite lendo. Mas na metade os meus olhos foram ficando mais pesados do que eu podia segurar e acabei dormindo. Acordei hoje e não larguei das folhas impressas até terminar. E sabe de uma coisa? Acho que poucas pessoas conseguem captar tão bem a minha realidade como o Randall. Eu leio as frases e os pensamentos da Fernanda e me enxergo nela. Vejo as minhas dúvidas, os meus medos, as minhas atitudes no que o Tiago faz. Enxergo minhas amigas nas amigas dos personagens... a minha vida está ali dentro daquele livro.

Assim como o que me fascina é a emoção que um cantor ou compositor consegue passar por meio da sua música ou o sentimento que um ator passa num filme, o que me faz gostar de um livro é exatamente isso que os do Randall têm. E, pra mim, ele está bem ali do lado de Nick Hornby, da Clarice Lispector, da Adriana Falcão e do Takeda... meu Top 5 de escritores que mais mexem comigo com suas palavras. Essa é a minha opinião e, pra mim, é assim que funcionam as coisas. O difícil é conseguir escrever um texto imparcial depois de ler trechos como esse:

"O que importa mesmo, Fernanda, é a intensidade com que você viveu esse relacionamento! O quanto significaram pra você todos os minutos que passou junto com ele. A gente produz marcas na vida das pessoas e somos marcadas por elas também, não tem como escolher qual vai ser mais importante, independente da vontade! Se ele vai sentir saudade de você, ou mesmo uma avassaladora vontade de revirar Sorocaba pra te achar, vai depender de um monte de fatores, o importante era ter vivido aqueles momentos, aqueles breves instantes na praia e me desculpe se eu não consigo dizer nada melhor que um apanhado de clichês, minha filha, e aqui vai mais um: a vida está só começando pra você, aproveite-a ao máximo sempre, como se fosse só mais um dentre muitos shows de rock!"


18.1.04

Mais uma vez Alice 

Pearl Jam — Alive

"Gatinho de Cheshire, poderia me dizer, por favor, que caminho devo tomar pra sair daqui?"
"Isso depende bastante de onde você quer chegar", disse o Gato.
"O lugar não me importa muito...", disse Alice.
"Então não importa que caminho você vai tomar", disse o Gato.
"...desde que eu chegue a algum lugar", acrescentou Alice em forma de explicação.
"Oh, você vai certamente chegar a algum lugar", disse o Gato, "se caminhar bastante."
Alice sentiu que não havia como negar essa verdade, por isso tentou outra pergunta. "Que tipo de pessoas vivem por aqui?"
"Nesta direção", disse o Gato, girando a pata direita, "mora um Chapeleiro. E nesta direção", apontando com a pata esquerda, "mora uma Lebre de Março. Visite quem você quiser, são ambos loucos."
"Mas eu não ando com loucos", observou Alice.
"Oh, você não tem como evitar", disse o Gato, "somos todos loucos por aqui. Eu sou louco. Você é louca."
"Como é que sabe que eu sou louca?", disse Alice.
"Você deve ser", disse o Gato, "senão não teria vindo pra cá."

[Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll]


16.1.04

Instantâneas 

REM — She just wants to be

. O engraçado de morar em frente ao cemitério é passar pela rua de manhã e ver os restos de macumba na calçada. Mas mais engraçado ainda é ver os cachorros comendo, felizes, o que sobrou das oferendas.

. Rever pessoas depois de muito tempo pode ser surpreendente. Para elas, que estranham meus cabelos vermelhos e para mim, que estranho o volume do decote. Pois é, o silicone pode fazer milagres.

. E pra terminar, acho que meu peixe está comendo o rabo da minha peixa. Sem sacanagens, por favor, isso está me preocupando.


13.1.04

Piada 

Piso Salarial — Jornalistas
Jornais e Revistas do interior (de 1º/12/2003 a 31/03/2004) — R$ 1.041,12
Jornais e Revistas do interior (de 1º/04/2004 a 30/11/2004) — R$ 1.087,97

Fonte: Sindicato dos Jornalistas de São Paulo



12.1.04

Sexo, Amor & Traição 

Matchbox 20 — Unwell

E então todos sumiram e eu fui ao cinema com a melhor companhia do mundo: um saquinho médio de pipoca e uma latinha de Sprite. Vi Sexo, Amor & Traição e a bunda do Fábio Assunção (que lindo, rimou!). E sabem que ele é bem o meu número? Com uma dose de absinto, uma sessão de massagem e um Tomás daquele só pra mim eu não reclamava nunca mais da vida. Mas mesmo com o Fábio peladão, fica faltando alguma coisa no filme — e não vou dizer que só faltou ele ficar comigo no fim (ops, já disse...). Achei tudo meio morno, apesar das cenas quentes e do Marcelo Antony fazendo strip-tease e terminando com aquela cuequinha vermelha. No fim das contas, fazendo a média, acho que valeu a pena: dei umas boas risadas e descobri que ser escritor (a) deve ser difícil, ainda mais pra mim, que não vivi tantas histórias pra contar. Mas não posso deixar de falar que não vou fazer plástica nunca se for pra ficar com o rosto igual ao da Betty Faria. O que é aquilo, meu Deus?


9.1.04

Possibilidades, escolhas e conseqüências 

Alanis Morissette — You Learn

Lá por volta dos meus 6 anos a minha mãe podia ter me deixado pular a Prontidão, como as professoras sugeriram, e talvez tudo fosse diferente hoje: eu estaria formada há um ano. Eu podia não ter desistido em cima da hora de fazer a matrícula pro Curso Técnico de Nutrição. Eu podia ter saído do colegial e feito um, dois, três anos de cursinho e ainda estaria na faculdade. Eu podia ter ido pra Londres. E ter ficado por lá, quem sabe. Eu podia ter prestado vestibular para Engenharia de Alimentos e estar agora entrando no último ano de curso. Ou então podia ter pego umas DPs ou até mesmo repetido algum ano. Eu podia ter ficado aqui mesmo, mas optado por Direito. Ou Letras e estaria feliz por ter experiência na área e por estar trabalhando com isso há mais de 4 anos. Podia agora estar voltando de Bauru. Eu podia ter desistido do Jornalismo no segundo ano. Podia ter trancado a faculdade ou então seria mais uma publicitária recém formada. Ou uma radialista... ou nada disso.

Muitas outras histórias poderiam ter nascido por causa dessas possibilidades que não se tornaram reais. Mas preferi estar como estou e onde estou. Eu escolhi, eu quis assim. Gosto de voltar no tempo e prestar atenção nos tantos caminhos que recusei, em tantas possibilidades que ficaram pra trás e quantas outras descobri justamente por meio das opções que eu fiz. Às vezes penso que poderia ter sido melhor se eu tivesse tomado um rumo diferente. Em outras, acredito que escolhi a direção certa. Mas quem pode me falar se a estrada que eu peguei tem um retorno, um buraco no meio do caminho ou se seguindo por ela não vou chegar a lugar nenhum? Quem sabe responder a todas as dúvidas que passam pela minha cabeça agora que decido qual é a estrada que vai me levar ao meu futuro?

Acho que as respostas só eu mesma posso encontrar. E talvez só as encontre no meio do caminho. O que eu preciso mesmo é descobrir por onde começar as novas escolhas...

_______________
"Don't feel guilty if you don't know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn't know at 22 what they wanted to do with their lives. Some of the most interesting 40-year-olds I know still don't." [Trecho de The Sunscreen Song]


Tem coisas que só a MJ faz por vc... 

Natalie Merchant — Life is sweet

It's a pity, it's a crying shame
Who pulled you down again?
How painful it must be
To bruise so easily inside

It's a pity, it's a downright crime
It happens all the time
You wanna stay with little daddy's girl
You wanna hide from the vicious world
Outside

Don't cry
You know that tears will do no good
So dry your eyes

Oh your daddy — he's the Iron Man
Battleship wrecked on dry land
Your mama — she's a bitter bride
She'll never be satisfied, you know
And that's not right

Don't cry
You know that tears will do no good
So dry your eyes
Well they told you life was hard
Misery from the start
It's dull, it's slow, it's painful

But I tell you life is sweet
Inspite of the misery
There's so much more, be grateful
Well, who do you believe?
Who will you listen to?
Who will it be?
Because it's high time that you decide
In your own mind

I've tried to comfort you
I've tried to tell you to be patient
They are blind, and they can't see
Fortune gonna come one day
It all gonna fade away

Your daddy — the war machine
And your mama — the long and suffering
Prisoner of what she cannot see...

They told you life was long
Be thankful when it's done
Don't ask for more, be grateful
But I tell you, life is short
Be thankful because before you know, it will be over
'Cause life is sweet
And life is oh so very short...



8.1.04

Alguns minutos de silêncio 

Lighthouse Family — High (eu acho, no rádio)

Não sei se alguém percebeu, mas ando com uma certa dificuldade pra escrever. Apesar da calma aparente, tem um emaranhado de coisas aqui dentro. Boas, como a festa de ontem. Ruins como a notícia de que, até que minha professora volte de férias, estou reprovada em uma matéria na faculdade. E outras sem muita importância. Mas muitas coisas que mexem comigo. Tenho vontade de falar falar falar mas não consigo. Tento então escrever e não sai nada. Está tudo entalado. E ando com muito tempo livre e poucas coisas pra fazer, o que não ajuda muito. Melhor ficar quieta.

Acabei de ter uma idéia: trabalho voluntário. Será que pra isso eu sirvo?


6.1.04

You are not alone 

"Você não está sozinha, eu tô aqui com você!", Júlio repetia mas eu não conseguia ouvir. A música alta. O barulho das pessoas conversando. Os beijos, os abraços, as mãos que percorriam aquele corpo que não era o meu. Eu estava tonta. O coração explodia. Raiva? Arrependimento? Não, não era isso o que preenchia todos os espaços dentro do meu peito. Era amor.

"Não, não faça isso!", mais uma vez a voz de Júlio chegava fraca aos meus ouvidos. Eu virei as costas e fui correndo até aquele que havia pouco tinha beijado os meus lábios. "Por que você faz isso comigo? Não vê que tá todo mundo olhando?" Não, ele não via nada além daquela boca e daquele corpo que se esfregavam no dele. Não, ele sequer notou a minha presença ali. Ele, que repetiu inúmeras vezes que não precisava nem sentir meu perfume ou ouvir a minha voz pra saber que eu estava por perto, o coração dele avisava. Avisava. Já não avisa mais. Já não mais quer ser avisado. Olhos vermelhos. Eu choro pra ver se a dor vai embora com as lágrimas.

Júlio me abraça e eu grito. Grito muito. Grito tudo. Grito pra jogar pra fora de mim tantos momentos que gastei ao lado daquele que com a mesma naturalidade com que troca de roupas, trocou de abraço. Que trocou tudo o que a gente viveu por uma noite ao lado de longas pernas dentro da meia calça preta e de peitos que escapam do vestido apertado. "Eu sabia! Eu sabia! Sou pequena, sou menina. É claro que ia acontecer!" E Júlio sempre ali comigo. O tempo todo.

E então eu descobri que não sou mais sozinha.


5.1.04

And all she wants is just
A little piece of this dream,
Is that too much to ask
With a safe home, and a warm bed,
On a quiet little street
All she wants is just that something to
Hold onto, that's all she needs...



4.1.04

Enquanto os caminhos se cruzam 

Escolheu uma camiseta legal, pegou a calça jeans menos suja e botou a sandália de sempre, porque a noite estava quente. Passou o lápis no olho, o gloss discreto nos lábios e saiu. O céu escuro e uma lua cheia bem clara completam o cenário que imita uma rua vazia, com suas casas desbotadas.

Seus passos são firmes, mas delicados. O coração bate forte, a respiração é ofegante e um turbilhão de pensamentos dá cambalhotas numa velocidade incrível dentro de sua cabeça. Ela resolve, então, dar uma volta no quarteirão, como sempre. Anda um pouco mais, mas assim pode usar a desculpa de estar voltando para casa ou qualquer outra que vier à sua cabeça na hora.

Ele está no portão há uns 10 minutos. Com os cadernos embaixo do braço, a camisa — desabotoada para mostrar a camiseta da sua banda preferida — para fora da calça larga e os tênis surrados. Olha para o relógio a cada cinco segundos e pensa que ela está atrasada. Até que, finalmente, vê alguém caminhando em sua direção.

Ela vira a esquina e percebe, com o canto dos olhos, que tem alguém na frente da casa dele. Respira fundo, seca o suor da testa com o dorso da mão e ajeita os cabelos sem que ele perceba. Diminui a velocidade e, poucos passos depois, ensaia um sorriso discreto.

— Oi.
— Oi.
— Tudo bem?
— Tudo.
— ...
— E você?
— Tudo bem, também.
— ...
— Voltando da escola?
— Aham.
— Eu vou pra casa.
— Ah... então tá.
— É. Tá.
— ...
— ...
— Tchau.
— Tchau.

Os dois corações quase pulam pela boca. Ela continua andando. Ele abre o portão. Eles ensaiam uma retomada do diálogo, olham para trás, mas seus olhares se desencontram. Desistem, como sempre. Mas de amanhã não passa!

“E se ele voltar mais cedo pra casa?”

“E se ela não fizer esse caminho?”

Ele vai chegar e esperar; ela vai dar a volta no quarteirão para ter uma desculpa. E vão continuar assim até um deles perder o medo de arriscar e resolver dar o primeiro passo. Ou até que um dos dois desvie do seu caminho.


Ilusão (de ótica?) 

Ludov — Trânsito

Insônia. Ela é uma amiga distante, que me visita de vez em quando e adora bater altos papos madrugada adentro, sem me deixar dormir. Até que me dou bem comigo mesma. E, de certa forma, eu gosto — o único ponto negativo é quando preciso acordar cedo no dia seguinte. Fiquei acordada até as 6 da manhã. Pensei, pensei, pensei, li um pouco, ouvi música, tentei ligar pra conversar mas ninguém atendeu e não quis ligar pra quem devia estar dormindo, mandei umas mensagens do celular e fiquei criando diálogos perfeitos que eu sei que nunca vão acontecer.

Estou com fome de novo, estou bêbado
andei por sua rua de novo, no sábado
mal sei dizer o que senti no dia em que te vi

Quero te beijar no meio do trânsito
Os carros buzinando num coro sinfônico
Quando o sinal abrir,
nós dois nos matando de tanto rir
você me chamando de louco


O problema é ficar inventando essas histórias, ficar imaginando como seria se algumas coisas fossem diferentes, se eu fosse mais corajosa, se fosse capaz de fazer o que eu tenho vontade na hora em que a vontade bate e não só depois de pensar e repensar quinhentas vezes antes pra ter certeza de que é isso mesmo que eu deveria fazer, de medir as conseqüências e etc. O engraçado é que nessas situações que crio, a minha personagem é tão mais interessante, espirituosa, inteligente... isso até me deixa decepcionada quando vivo a "vida real", em que não consigo falar o que vem na minha cabeça e falo umas besteiras — quando falo. E o pior é que tenho medo de parecer patética e acabo parecendo justamente por isso. Patética como essas coisas sem sentido que eu escrevo. Ah, deixa pra lá. Não vou conseguir mudar mesmo...


3.1.04

Back to reality 

Skank — Formato Mínimo

Depois de uns bons quilômetros rodados dentro do estado, estou de volta. Deixei aquele calorão de lascar pra trás e tirei o agasalho herdado do meu pai pra controlar o frio que faz aqui. E voltei com a sensação de que esqueci alguma coisa — talvez isso até seja bom — mas trouxe uns presentes novos na bagagem. Tive tempo de sobra pra pensar na vida e colocar as coisas no lugar. Não sei se consegui arrumar tudo, mas já é um bom começo. E 2003 foi embora em clima de preguiça, com direito a tardes na piscina (de montar), com muito sorvete e nenhuma preocupação. Que 2004 comece logo, de fato, pra mim porque não agüento mais esperar por novidades que não chegam nunca. E dessa vez não fiz nenhuma simpatia, só algumas resoluções:

— Não pensar demais antes de fazer o que eu tenho vontade;
— Não me iludir tanto com as pessoas;
— Guardar dinheiro pra ir passar o próximo Reveillon no Rio de Janeiro, mesmo que sozinha.

Eu não gosto de fazer planos, só que é sempre bom ter algum objetivo, ter um motivo pra acordar todo dia com vontade de fazer alguma coisa e disposição de chegar até o dia 31 de dezembro do ano que acabou de começar. É, estou precisando de um empurrão pra ver se pego no tranco e acordo desse estado meio anestesiado que eu estou e que me deixa assim sem saber o que fazer ou pra onde ir. Mas ok, vamos acreditar que isso é coisa do inferno astral, que já deve estar se manifestando por essas bandas. Na verdade, acho que preciso matar logo essas saudades, porque há tempos que eu não sinto tanta falta de tanta gente...


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